CHAMADA DE ARTIGOS PARA O DOSSIÊ "DIREITAS RADICAIS NAS AMÉRICAS"
DIREITAS RADICAIS NAS AMÉRICAS
O dossiê “Direitas radicais nas Américas” pretende reunir estudos que tenham como pano de fundo o aparecimento no século XX e XXI de forças políticas identificadas com o campo da extrema-direita, aqui denominadas “direitas radicais”. Com grande presença nas redes sociais e competitivas eleitoralmente, tais forças apresentam plataformas políticas difusas, mas que convergem, em grande medida, no conservadorismo moral, no liberalismo econômico, na gestão violenta das populações, na promoção de “guerras culturais” e no mercado como único espaço de sociabilidade. A partir desse contexto, o dossiê tem a intenção de reunir estudos no campo da história ou em diálogo com ela, que discutam as genealogias das “direitas radicais”, seus intelectuais, influencers e lideranças políticas, os meios e modos de difusão de seus ideários, seus think tanks, as suas relações com as potências econômicas mundiais, entre outros temas.
O avanço das “direitas radicais” é um fenômeno global com expressões heterogêneas, mas obedece a características nacionais ou regionais. Na América Latina, sua irrupção como “opções políticas perante a crise”, como força eleitoral, e fenômeno midiático ocorreu em meio ao descenso dos governos chamados “progressistas”, seja por meio de golpes jurídico-parlamentares ou pela via eleitoral, mas antes de se tornarem atores eleitorais importantes, os grupos identificados com as “direitas radicais” foram acumulando forças e seguidores/as na internet, desde antes do fortalecimento das redes sociais. Ao mesmo tempo, iam ganhando espaço na mídia tradicional, como nas televisões abertas onde, por exemplo, Jair Bolsonaro e Javier Milei tornaram-se conhecidos do grande público. Através da utilização estratégica dos meios de comunicação, conseguiram apresentar-se como opções para os impasses que a mudança do século representava: instabilidade econômica, conflitos sociais crescentes, futuro incerto etc. O mesmo avanço pode ser identificado nos Estados Unidos numa escala muito maior: Donald Trump, já conhecido dos noticiários e da indústria cultural estadunidense, alcançou o status de celebridade no programa “O aprendiz”, que apresentou por 14 temporadas. Com esta difusão midiática conseguiu construir uma ideologia política ambígua e contraditória, mas que apresentava respostas simples para problemas complexos, conquistando a aceitação de milhões de pessoas. Além de lideranças políticas autoproclamadas outsiders, que possuíam inserção na mídia tradicional, surgiram muitos/as influenciadores/as, alguns/as deles/as também dedicados/as à política institucional, mas muitos/as outros/as engajados/as no que se conhece como “guerra cultural”, reproduzindo ensinamentos de ideólogos como Steve Bannon ou Olavo de Carvalho. Estas formas marginais de política, embora heterogêneas e por vezes contraditórias, contribuem para a consolidação de relações econômicas monopolistas, que são as que se beneficiam direta e indiretamente da expansão das “direitas radicais”. A presença das “direitas radicais” é uma forma de recomposição das dinâmicas de poder num contexto de crise global. Embora, até agora, os grandes interesses econômicos não tenham manifestado o seu apoio direto a este tipo de projeto, exceto no caso de Elon Musk, que tem apoiado abertamente a campanha de Trump, isso não significa que sejam fatores alheios ao avanço das “direitas radicais”. Na América Latina, o apoio de grandes interesses econômicos a este tipo de projeto é mais evidente, como no México, o Grupo Salinas, ou na Argentina, a Sociedade Rural. Por isso propomos reflexões em chave histórica sobre o avanço deste tipo de projetos na América Latina, não apenas como um fenômeno ideológico que apresenta realidades simplificadas e soluções voluntaristas para problemas sociais complexos, mas também como processos de base social que, a partir dos procedimentos estabelecidos pela democracia liberal, conseguem construir interações coletivas, gerar adesões, modificar as dinâmicas de socialização e garantir a continuidade de atividades econômicas monopolistas. Por fim, vale ressaltar que esse tema tem sido pouco tratado na área de História das Américas, que é um espaço privilegiado para pensar sobre as “direitas radicais” em perspectiva comparada e/ou transnacional.
Data para submissão: 31/03/2025