As ditaduras civis-militares e os dilemas entre lembrar e esquecer: a representação dual entre Brasil e Argentina.

Autores

  • Pâmela de Almeida Resende Universidade de São Paulo (USP)
  • Marcos Oliveira Amorim Tolentino Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

DOI:

https://doi.org/10.46752/anphlac.18.2015.2300

Resumo

O objetivo deste artigo é problematizar uma noção comumente aceita de a Argentina seria o “país da memória”, enquanto o Brasil é o “país do esquecimento”, devido às políticas públicas desenvolvidas em cada país frente aos legados das recentes ditaduras civis-militares. Para além do senso comum que pontua uma oposição excludente entre memória e esquecimento, há uma tentativa de separação de duas maneiras de agir na política: aquela que propõe “virar a página” em nome da chamada reconciliação nacional; e aquela que não pode esquecer sem conhecer, esclarecer e promover o nunca mais. Para tanto, abordaremos as medidas reparatórias adotadas pelos respectivos Estados nos últimos anos nos dois países, de maneira a demonstrar que memória e esquecimento, mais do que uma simples dualidade, conformam os relatos sobre as ditaduras produzidas nos dois países, assim como a relação que hoje tanto Estado quanto a sociedade civil estabelecem com o passado ditatorial.

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Biografia do Autor

Pâmela de Almeida Resende, Universidade de São Paulo (USP)

Mestra em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutoranda em História pela Universidade de São Paulo (USP), onde desenvolve pesquisa intitulada “Quatro dias em setembro: o sequestro do embaixador Charles Elbrick e as negociações entre Brasil e EUA” sob orientação da Profa. Dra. Elizabeth Cancelli. Endereço para correspondência: Rua Francisco Ianni, 100. Jardim Ubirajara, São Paulo. Cep: 04458090. Email: pamelaresende@yahoo.com.br.

 

Marcos Oliveira Amorim Tolentino, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Mestre em História na área de Política, Memória e Cidade pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutorando em História na mesma universidade, onde desenvolve pesquisa intitulada “Porque temos memória, sabemos a verdade, exigimos justiça. A inserção dos sobreviventes dos centros clandestinos de detenção no movimento argentino pelos direitos humanos (1984-2014)” sob orientação do Prof. Dr. José Alves de Freitas Neto. Órgão financiador: CNPq. Endereço para correspondência: Rua Praia de Mar Grande, quadra 15, lote 07. Villas do Atlântico, Bahia. Cep: 42700000. Email: marcosoat@hotmail.com

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Arquivos adicionais

Publicado

2015-08-04

Como Citar

de Almeida Resende, P., & Oliveira Amorim Tolentino, M. (2015). As ditaduras civis-militares e os dilemas entre lembrar e esquecer: a representação dual entre Brasil e Argentina. Revista Eletrônica Da ANPHLAC, (18), 251–286. https://doi.org/10.46752/anphlac.18.2015.2300